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sábado, 3 de dezembro de 2011

Um dia de paizão com o novo Dodge Journey R/T

Estava um pouco inseguro a caminho do test-drive com o Dodge Journey. Ocorre o seguinte: este é um site sempre focado no prazer ao dirigir, no que importa para a pessoa atrás do volante. Como falar de um SUV de forma honesta e coerente, mesmo sem conseguir me imaginar tendo algo assim? A tal da “imparcialidade” geralmente rende textos tão legais quanto os relatórios de seguradoras. A saída para algo mais produtivo, para mim, foi incorporar o papel de um pai de família com dois filhos. Sim, dois pentelhos. Cadê a patroa?



Sendo um respeitável e bem-sucedido cidadão na flor dos cinquenta e poucos anos, digo que à primeira vista o Dodge Journey 2012 não é o mais atraente. Linhas quadradas, sólidas, bastante conservadoras, deixam o carro alguns anos mais velho que os concorrentes asiáticos e europeus adquiridos por meus colegas de golfe. Pagar de gatão da meia-idade com esse crossover não dá. Mas pensando bem, isso pode ser bom: para que ficar transportando minha valiosa família dentro de algo que chama a atenção da gatunagem?
Discreta por fora, bastante agradável por dentro. Houve uma melhora significativa em relação à geração anterior. Além do redesenho europeu, os materiais tornaram-se mais agradáveis ao toque. Meu corpinho com anos de gordura acumulada se acomoda muito bem nos bancos de couro – de série – com ajustes elétricos e excelentes apoios para os braços.
O povo lá de casa também deve gostar. São três fileiras de bancos com capacidade para sete pessoas (sem bagagem, claro). As duas primeiras fileiras são reclináveis, há assentos elevados para crianças nos bancos intermediários, e todos – com exceção do motorista – podem ser corridos longitualmente e dobrados, inclusive o do passageiro dianteiro, o que permite à minha sogra com problemas de circulação esticar as pernas à vontade em caso de viagem.
Olho para o retrovisor panorâmico – daqueles que permitem observar tudo o que a criançada está aprontado – e já me imagino dando o esporro: “aí molecada, quem não calar a boca agora vai lá pra fileira de trás”. Sou um pai rigoroso, durão. O problema é que os pentelhos talvez prefiram mesmo ir na última fileira. Fica mais longe dos pais, e até eu consigo me acomodar lá sem problemas. Cada uma das fileiras possui duas saídas dedicadas de ar condicionado no teto, junto com os controles individuais.


Porta trecos é o que não falta. Dois deles, enormes, estão localizados no assoalho da segunda fileira, e podem ser utilizados como coolers cheios de gelo para a cerve… ops, ato falho, para os Ades de morango com canudinhos inclusos.
Me arrisco a entender os sistemas de infotainment do Journey, rezando para não passar vergonha diante dessas essas coisas tecnológicas. Além do computador de bordo no centro do painel, há um display de LCD que agrega todas as funções de áudio, ar-condicionado, Bluetooth e várias configurações de funcionamento do carro. Tudo touch-screen e muito, muito fácil de se mexer – não vou precisar daquele meu filho de 12 anos metido a sabichão para me ensinar nada.


O único problema aqui é que a tela é pequena, apenas 4,3 polegadas. Cadê os meus óculos, mulher? A Chrysler conta que um novo visor de 8,4 polegadas deveria ser o padrão (o lugar dela está demarcado, olha lá), com navegador GPS incluso e imagens da câmera de ré (este último, certamente o equipamento que mais faz falta na configuração atual), mas que as entregas foram atrasadas em decorrência dos terremotos no Japão. A situação deve se normalizar nos próximos meses.
De qualquer forma, preciso ressaltar a qualidade do áudio. Na versão R/T (a top de linha, com alguns acessórios a mais), o sistema de som é da marca Alpine e conta com seis auto-falantes, além de um subwoofer. Seja no CD ou em vinil arquivos MP3, poucas vezes a voz onipresente do meu ídolo Frank Sinatra soou tão bem num carro.


E já falei da lanterna que vem embutida no porta-malas, e que está sempre carregada na fonte? Sou do tempo em que carro quebrava direto, principalmente de noite. Acho que não acontece mais muito isso, mas é sempre bom se precaver. Luz é sempre útil, meu filho.
Agora chega de papo furado e vamos andar, pois o grande destaque do novo Journey está debaixo do capô. No lugar do antigo V6 de 185 cavalos, chegou o elogiado V6 Pentastar de 3,6 litros, 280 cavalos e 34,9 kgfm. Cem cavalos a mais é de empolgar qualquer pai de família – ainda mais naquele tipo de situação em que você, com o carro lotado e a criançada reclamando que quer ir ao banheiro, não aguenta mais ficar atrás daquela maldita carreta.


O Brasil será o único país onde o Journey vai conviver com a sua versão Fiat, o Freemont. A diferenciação está justamente no motor: enquanto o Freemont custa a partir de 81,9 mil reais equipado com um motor de quatro cilindros, 2.4 litros e 172 cavalos, o Dodge parte de 97,5 mil reais e ainda oferece mais equipamentos de série. Vale a pena comprometer o orçamento familiar em troca do Journey? Se você não gosta de passar nervoso na estrada, claro que vale.
Dito isso, confesso que me decepcionei um pouco com o comportamento do carro em rodovias. O câmbio automático tem seis marchas, duas a mais que o do Freemont, mas as relações aparentemente são longas: no primeiro kickdown, mesmo com o escândalo característico ao se reduzir e elevar o giro, a força demora a aparecer. Nessas horas, melhor colocar a alavanca em modo sequencial, dosar o acelerador e ditar você mesmo as regras do jogo.
Passada a inércia, o V6 Pentastar finalmente revela suas qualidades, embalando as quase duas toneladas do Journey com vontade. Os números de desempenho divulgados oficialmente são 208 km/h de máxima e apenas oito segundos para ir de 0 a 100 km/h – aqui entre nós, achei esse último dado um pouco otimista demais. Sobre o consumo, seria de 6,7 km/L na cidade e 12,8 km/L na estrada, em ritmo econômico.


A suspensão, independente nas quatro rodas, teve de ser recalibrada para lidar com a potência mais alta. O Journey é bastante confortável, suavizando as irregularidades mesmo com rodas aro 19 (na versão R/T). Na hora de encarar uma curva mais forte, o controle de estabilidade atua bem depressa – mesmo assim não há milagres, e logo a barca avisa que está perto de desgarrar. Mas afinal de contas, faz sentido tentar andar rápido com um carro desses?

Não, não faz. A missão do Journey é outra, e ele cumpre seu papel com louvor. Terminado o passeio de mais de 200 km entre São Paulo e Bertioga, desincorporo o personagem e volto a assumir meus joviais vinte e poucos anos de idade – ok, um pouquinho menos.
Ligo para o meu pai e digo ao velho: não que eu vá te dar netos bem agora, mas já pensou em trocar aquele seu Fiesta Sedan por algo melhor e mais seguro? Temos aqui uma boa opção.

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