A: -O novo Civic vem aí!
B: -Quê? Chegou tarde amigo, ele já está no mercado desde 2007…
A: -Não, não! Este é diferente, é 2012, é o New Civic. Mudou tudo.
B: -Mas o nome já não era “novo”?
A: -Sim, mas o novo ficou velho, então agora temos o novo New Civic, o Novo Novo Civic, enfim, novidade.
B: -E quando a próxima geração sair? Vai ter mais um “new” ou “novo” no nome? Até quando vai isso?
A: -Não faça perguntas difíceis.
Você não se diverte com os marketeiros e publicitários? Se não, deveria. Nós rimos junto com eles quando eles fazem as sacadinhas geniais de comerciais e posicionamento de produtos no mercado, e rimos da cara deles quando tentam fazer atalhos que resultam em cagad@s – consequência da necessidade constante do “think out of the box”.
A última moda destes caras – que odeiam ser confundidos um com o outro, mais que arquitetos e engenheiros civis – é o emprego de palavras grudentas. Imagino que a categoria destas palavras grudentas deva ser descrita por outra palavra grudenta, porque palavras grudentas é o que eles mais gostam. Nos anos 80 e 90, a moda eram metais nobres, mas comuns: Ouro, Gold, Silver, Prata. Ou coisas descritivas, como Special, Exclusive, Plus, etc. De um tempo pra cá, a coisa ficou mais hi-tech ou sofisticada: Carbon, Platinum; ou Premium – que descreve desde ração de cachorro até cartão de crédito. Ou radicais, tipo X-Treme, Mega, Ultimate. Já o Personal emboiolou e virou Personalité. Huumm… boiolinha!
Ah. Sustentabilidade, ô palavrinha maldita usada por esses caras para “agregar valor”. A gente odeia quando descobre, mas temos de admitir: funciona. Vende, nós compramos mais. Então, so sorry… eles estão certos, eu estou errado.
O mundo dos carros estava relativamente tranquilo de palavrinhas mágicas (exceto aquela mentira do “feirão a preço de fábrica”, dando a entender que ou as fábricas estariam dando o carro para você a preço de custo, ou que você não pagaria o valor intermediário entre a marca e a concessionária. Não seja tonto).
Bem, mas indo ao que interessa: quando o Gol bolinha saiu, ele era o novo Gol. Sem a maiúscula ao lado do prefixo, porque é óbvio, o prefixo não fazia parte do nome. Tanto que virou o quê, o Gol bola, contraposto ao Gol caixinha. Não desmerecia o produto, não o depreciava – o carro continuou como líder isolado de vendas no país. Assim como o mercado praticamente se auto-regula na economia, a sociedade também cuida de definir os produtos – não precisa de um geniozinho que acredita estar num nível de percepção acima do resto.
Mas aí um destes acima quis pensar “out of the box”. Quis trazer um frescor de novidade que fosse incorporado ao produto, sem abrir mão dos valores já conquistados por ele. Daí nasceu o New Beetle em 1997. Notem a maiúscula, o New faz parte do nome dele. Mas se nem a Nicole Kidman fica jovem pra sempre, é óbvio que o New Beetle um dia iria ficar old.
O resultado disso é que o Beetle 2012 perdeu o “New” do nome, ficando apenas com o ano incorporado ao nome. Então, na hora de vendê-lo, você pode anunciar o bichinho como… “vendo Beetle 2012 2012-2013″, que tal?
(nota: agradecimento aos leitores Rafthehay e BrizioPaes pela correção)
Cousa líndjia
Claro, nem tudo é espanco. Tem um lado da história que justifica o New fazer parte do nome do Beetle “reloaded”. Apesar de querido, popular, carismático e tudo o mais, o Fusca era visto como um ícone de atraso tecnológico. Não dá pra trazer este nome de volta pelado, sem um temperinho que dissesse de alguma forma “ei, não sou mais um carro democrático e popular! Não é só o automóvel que é novo, sou um conceito completamente novo também. Virei uma coisa feita pra mulheres e bi…”. Enfim, uma brisa.
Só que isso não vale muito para o resto do mercado. O resto que adotou o New ou Novo foi por oportunismo, o mesmo oportunismo que você encontra na Alface Premium ou em todos os bancos “sustentáveis” – você acha mesmo que eles são altruístas a este ponto?
Daí chegamos neste cenário que temos hoje. Todo mundo ficou gago. Pergunte pro seu colega sobre o Civic que vem aí. O cara vai falar:
-O novo Novo Civic?
Ou chegue na Ford, e pergunte do novo Fiesta. Essa é boa.
-Você quer o Novo Fiesta ou o New Fiesta?
Cuidado cara, são dois carros completamente diferentes. O Novo Fiesta é um velho Fiesta com cara de ET de Varginha, o New Fiesta é um carro muito mais caro e bacana, importado. Agora, pense quando saírem as novas versões deles: novo novo Fiesta e o novo New Fiesta. Ou o Novo Fiesta 2013.
É tanta novidade que tudo parece monótono e o velho é que parece novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário