1) “A noite seguinte ao massacre intelectual”
Quem tem tempo de aproveitar os bons vinhos e cortes nobres que fecham uma sessão de testes? Hoje em dia, muitos jornalistas passam a noite anterior à avaliação em seu quarto de hotel desvendando comunicados de imprensa elaborados, decifrando citações manipuladas de engenheiros e metralhando detalhes no WordPress mais rápido que o operador de rádio do Titanic no dia 14 de abril de 1912. Tudo em uma corrida desesperada para apertar o botão de “salvar” antes do cara no quarto ao lado. A avalanche de informações “de referência” não é divertida, geralmente contém poucas informações, e o melhor que o leitor pode esperar delas é que tenha mais verbos que adjetivos e fotos suficientes para passar o tempo.
2) A avaliação “Era pra isto ser inteligível, mas o editor assistente ficou intimidado pelo prolixo jornalista que é também um engenheiro”
Pobre coitado. O enferrujado jornalista chegou com 5.000 palavras sobre a descrição da inércia, efeitos da cambagem e variação das forças laterais, e não se dignou a explicar que diabos significa tudo isso. “Ah, eles vão entender”, diz ele ao garoto, que não é pago o suficiente para lidar com esse acomodado (para não usar um termo forte demais). O garoto entende que isso não presta, mas o velhote não concorda. Quem paga o pato? O leitor, porque no final, nada no texto vale a leitura.
3) O edital dos detalhes
O nível de detalhes dessas avaliações é tão massacrante, as páginas tão cheias de termos e chavões e metáforas, que ao chegar à metade do discurso sobre a capacidade de carga do carro – por volta da 1.559ª palavra – já é tarde demais porque você já subiu em uma cadeira de madeira e amarrou a gravata na primeira coisa suspensa que encontrou.
4) O relatório feito por um robô
Quando falta inspiração ou quando o objeto não empolga suas frescas exigências, jornalistas correm o sério risco de escrever um relatório burocrático sem emoção. É fácil identificar avaliações assim: são cheias de frases curtas e desapaixonadas descrevendo cada mínimo aspecto do carro, como se fosse uma aula de anatomia, e não um texto para um ensaio da Playboy.
5) A tentativa fracassada de fazer metáforas ao estilo Clarkson
É preciso ser realmente bom como Jeremy Clarkson para começar uma avaliação com uma anedota sobre um pé de manga nos campos da França, e depois nos manter interessados enquanto fala do interior da Inglaterra, cortes de cabelo, e depois encaixar uma referência a um príncipe que nunca vai ser rei – antes de chegar perto de um carro. A maioria das tentativas em imitar isso geralmente fracassa igual à promessa do capitão do seu time para trazer o título do campeonato com mensagens motivacionais bregas e constrangedoras.
6) A tentativa fracassada de uma referência literária
Não há nada de errado em citar os grandes mestres para ilustrar uma frase, apenas se certifique de que é a hora certa, ou você vai terminar como aquele mala que tenta impressionar os demais em churrascos de família. “Não temeis a grandeza” disse Shakespeare, “alguns nascem grandes, alguns conseguem grandeza, a alguns a grandeza lhes é imposta. Como neste popular 1.0.” Isso não vira.
7) A avaliação “Eu deveria escrever para o Discovery Channel, esta porcaria já está descritiva demais”
Ela começa colocando o leitor no meio da ação. “Lá estava eu, percorrendo uma estreita camada de pavimento betuminoso no interior da Espanha, o aroma de uma floresta de eucaliptos preenchendo a cabine do sedã alemão em meio à primavera do país Basco, os tons caramelados despertando meus sentidos para a curva inclinada à direita que eu estava prestes a cortar como uma faca em meio a melhor manteiga dinamarquesa antes de derreter em uma frigideira…” Sério. Precisa tanto?
8) A meta-avaliação “Minha experiência correndo em Interlagos eleva minha opinião sobre o valor deste objeto a um estado inalcançável.”
Certo, estamos fascinados sobre como é possível tirar milissegundos do tempo de volta de um WRX só por não ser um pai de família que ainda paga o aluguel e tem duas crianças para sustentar. Mas ser um elitista cujo único propósito é incitar o elitismo nos outros não torna a crítica mais interessante, a torna uma porcaria entediante.
E você, leitor voraz de reportagens automotivas, consegue identificar mais categorias de avaliações? A caixa de comentários abaixo está à sua disposição.
Estou para pedir demissão a mim mesmo e conter-me apenas a ler e criticar textos dos outros. É muito mais fácil e simples sentar o rabo em uma cadeira, ler e criticar do que colocar a cuca pra ferver em cima de um "carrinho bonitinho com kit padaria".
ResponderExcluirConfesso. Já passei da nona categoria: A de achar que no próximo texto vai conseguir evitar todas as outras oito categorias, mas acaba por cair na décima... e fazer a mesma merda dos textos anteriores.
Somos todos humanos e sucetíveis a "N" erros, mas, ao menos em mim, o que me motiva a continuar tentando fazer melhor é o simples prazer de tentar.
Viram, mais uma baboseira escrita com filosofia de buteco. Onde está minha gravata e o ventilador de teto mais próximo quando mais se precisa deles?