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quarta-feira, 23 de março de 2011

Os diferentes tipos de avaliação automotiva

Todos os que escrevem sobre carros, mesmo nós aqui no MG Autonovidades, já passaram pela experiência de escrever uma péssima avaliação de carro. E quando a avaliação é fraca, provavelmente se encaixa em uma das categorias desvendadas a seguir.

1) “A noite seguinte ao massacre intelectual”

Quem tem tempo de aproveitar os bons vinhos e cortes nobres que fecham uma sessão de testes? Hoje em dia, muitos jornalistas passam a noite anterior à avaliação em seu quarto de hotel desvendando comunicados de imprensa elaborados, decifrando citações manipuladas de engenheiros e metralhando detalhes no WordPress mais rápido que o operador de rádio do Titanic no dia 14 de abril de 1912. Tudo em uma corrida desesperada para apertar o botão de “salvar” antes do cara no quarto ao lado. A avalanche de informações “de referência” não é divertida, geralmente contém poucas informações, e o melhor que o leitor pode esperar delas é que tenha mais verbos que adjetivos e fotos suficientes para passar o tempo.

2) A avaliação “Era pra isto ser inteligível, mas o editor assistente ficou intimidado pelo prolixo jornalista que é também um engenheiro”

Pobre coitado. O enferrujado jornalista chegou com 5.000 palavras sobre a descrição da inércia, efeitos da cambagem e variação das forças laterais, e não se dignou a explicar que diabos significa tudo isso. “Ah, eles vão entender”, diz ele ao garoto, que não é pago o suficiente para lidar com esse acomodado (para não usar um termo forte demais). O garoto entende que isso não presta, mas o velhote não concorda. Quem paga o pato? O leitor, porque no final, nada no texto vale a leitura.

3) O edital dos detalhes

O nível de detalhes dessas avaliações é tão massacrante, as páginas tão cheias de termos e chavões e metáforas, que ao chegar à metade do discurso sobre a capacidade de carga do carro – por volta da 1.559ª palavra – já é tarde demais porque você já subiu em uma cadeira de madeira e amarrou a gravata na primeira coisa suspensa que encontrou.

4) O relatório feito por um robô

Quando falta inspiração ou quando o objeto não empolga suas frescas exigências, jornalistas correm o sério risco de escrever um relatório burocrático sem emoção. É fácil identificar avaliações assim: são cheias de frases curtas e desapaixonadas descrevendo cada mínimo aspecto do carro, como se fosse uma aula de anatomia, e não um texto para um ensaio da Playboy.

5) A tentativa fracassada de fazer metáforas ao estilo Clarkson

É preciso ser realmente bom como Jeremy Clarkson para começar uma avaliação com uma anedota sobre um pé de manga nos campos da França, e depois nos manter interessados enquanto fala do interior da Inglaterra, cortes de cabelo, e depois encaixar uma referência a um príncipe que nunca vai ser rei – antes de chegar perto de um carro. A maioria das tentativas em imitar isso geralmente fracassa igual à promessa do capitão do seu time para trazer o título do campeonato com mensagens motivacionais bregas e constrangedoras.

6) A tentativa fracassada de uma referência literária

Não há nada de errado em citar os grandes mestres para ilustrar uma frase, apenas se certifique de que é a hora certa, ou você vai terminar como aquele mala que tenta impressionar os demais em churrascos de família. “Não temeis a grandeza” disse Shakespeare, “alguns nascem grandes, alguns conseguem grandeza, a alguns a grandeza lhes é imposta. Como neste popular 1.0.” Isso não vira.

7) A avaliação “Eu deveria escrever para o Discovery Channel, esta porcaria já está descritiva demais”

Ela começa colocando o leitor no meio da ação. “Lá estava eu, percorrendo uma estreita camada de pavimento betuminoso no interior da Espanha, o aroma de uma floresta de eucaliptos preenchendo a cabine do sedã alemão em meio à primavera do país Basco, os tons caramelados despertando meus sentidos para a curva inclinada à direita que eu estava prestes a cortar como uma faca em meio a melhor manteiga dinamarquesa antes de derreter em uma frigideira…” Sério. Precisa tanto?

8) A meta-avaliação “Minha experiência correndo em Interlagos eleva minha opinião sobre o valor deste objeto a um estado inalcançável.”

Certo, estamos fascinados sobre como é possível tirar milissegundos do tempo de volta de um WRX só por não ser um pai de família que ainda paga o aluguel e tem duas crianças para sustentar. Mas ser um elitista cujo único propósito é incitar o elitismo nos outros não torna a crítica mais interessante, a torna uma porcaria entediante.

E você, leitor voraz de reportagens automotivas, consegue identificar mais categorias de avaliações? A caixa de comentários abaixo está à sua disposição.

Um comentário:

  1. Estou para pedir demissão a mim mesmo e conter-me apenas a ler e criticar textos dos outros. É muito mais fácil e simples sentar o rabo em uma cadeira, ler e criticar do que colocar a cuca pra ferver em cima de um "carrinho bonitinho com kit padaria".

    Confesso. Já passei da nona categoria: A de achar que no próximo texto vai conseguir evitar todas as outras oito categorias, mas acaba por cair na décima... e fazer a mesma merda dos textos anteriores.

    Somos todos humanos e sucetíveis a "N" erros, mas, ao menos em mim, o que me motiva a continuar tentando fazer melhor é o simples prazer de tentar.

    Viram, mais uma baboseira escrita com filosofia de buteco. Onde está minha gravata e o ventilador de teto mais próximo quando mais se precisa deles?

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