Na média, o preço do etanol deve se situar abaixo de 70% da gasolina para o automóvel alcançar custo de rodagem menor. Basta multiplicar por sete o valor da gasolina e dividir por 10. Um disco batizado de FlexCalc®, que empresas distribuíram como brinde, facilita as contas, mas a escala máxima colocava o etanol a R$ 2,10. De qualquer forma, como a gasolina quase não varia de preço, etanol acima de R$ 1,70 já significa custo/km desfavorável.
Mantém-se, no entanto, o benefício ambiental porque um motor flex usando etanol emite cerca de 80% menos CO2, no ciclo fechado de produção (do poço à roda). CO2 não é tóxico, mas um dos gases de efeito estufa, segundo 174 países signatários do Protocolo de Kyoto, de 1997.
Combustível vegetal, a exemplo do etanol, está sujeito a variações de preços entre safra e entressafra. Quando cai abaixo de R$ 1,00 todos correm para abastecer, inclusive em carros só a gasolina, que não deveriam. Crescimento súbito – ou inesperado – na venda de veículos em 2009 e 2010 desequilibrou oferta e demanda, enquanto a resposta agrícola é necessariamente demorada.
Fala-se que o etanol encareceu demais devido à cana direcionada à produção de açúcar subir de 39% para 45% do total, a fim de aproveitar preços melhores no exterior. Na realidade, nada ia segurar o preço na bomba abaixo de R$1,70/litro porque as vendas de carros dispararam, enquanto investimentos e decisões de plantio sofreram um tranco com a crise financeira iniciada em 2008.Perto de 90% das unidades comercializadas, hoje, possuem motores flexíveis, cujo nome já diz tudo: abastecer segundo a conveniência de preço ou autonomia, opção técnica indiscutível e vitoriosa. Os compradores exigem. Houve, porém, muitos motoristas desatentos. Se, em novembro do ano passado, tivessem substituído temporariamente o etanol, se evitaria atingir os píncaros e até se refletir sobre a gasolina. Afinal, 18% do preço desta na bomba é formado pelo etanol.
Eliminar oscilações severas passa por soluções de mercado, as únicas viáveis. Shell e BP, além da própria Petrobras, estão despejando bilhões de reais na produção de etanol nos próximos anos. A estabilização de preços, sem depender tanto de safras agrícolas, passa pela transformação do etanol em matéria-prima (commodity) com cotação em bolsas de mercadorias. Há anos se ensaia essa solução, envolvendo o maior produtor mundial, os EUA.
Uma vez acertada, poderia se obter equilíbrio nos preços. Plantações situadas nos hemisférios Norte e Sul do planeta são espelhadas: safra de um coincide com entressafra do outro. Assim de acordo, Brasil e EUA poderiam exportar ou importar etanol, mantendo sempre preços competitivos ao consumidor e sem prejuízos para os produtores.
Texto de : Fernando Calmon, jornalista especializado, palestrante e consultor de assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação.
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