A lenda da promoção dos motores Duratec

Março de 2009. Uma notícia se espalha como rastilho de pólvora entre os aficionados por carro. Encontros, fóruns, oficinas, o papo era o mesmo: uma promoção inacreditável da Ford, queimando um lote de motores Duratec 2.0 novinhos, na caixa; acompanhados de uma série de equipamentos extras (embreagem, sistema de injeção, chicote, etc). Por ridículos R$1.500.

A oportunidade era tão boa que até quem não quem tinha onde instalar um motor destes se coçou, conferiu o saldo na conta bancária e partiu para cima. Mas se nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo o que está na caixa é zerado como parece. E aí, a alegria foi, literalmente, por água abaixo…

Passado algumas semanas após a divulgação da promoção, começaram a pipocar algumas notícias desagradáveis em fóruns. Alguns destes motores quebravam com minutos de uso, outros faziam ruídos assustadores. Em outros, os compradores foram “agraciados” com alguns poucos sinais externos de que havia algo de errado, e não precisaram ligá-los para ter certeza de que aconteceria um desastre. E quem viu estes sinais, não gostou nada. Quem gostaria de ver um motor supostamente novo neste estado?

A história que começou a circular é que a fábrica sofreu uma inundação e liquidou estes motores que seriam instalados em Ecosports, comprado em lotes por diversas concessionárias que revendiam cada unidade por em média R$1.500 – como a Disbauto, de Bauru, uma das que mais vendeu estas roletas russas – porque alguns estavam em estado deplorável, e outros em perfeito estado (como saber?). Muitos deles tinham lama e ferrugem, misturados a sinais de lavagem superficial – para disfarçar o seu real estado (o que pode ter sido feito na fábrica ou nas concessionárias – novamente, como saber?). Outros apresentavam parafusos mal apertados em seus componentes, provável consequência da lavagem, e remontados praticamente para quebrar – porque todas as peças de um motor precisam ser parafusadas via torquímetro; pois os parafusos exercem uma pressão pré-determinada na estrutura dos componentes.

Para recuperar um motor destes, você gastaria muito mais que os tais R$1.500. Precisaria retificar os cilindros enferrujados (e torcer para que ficassem dentro da tolerância, caso contrário precisaria encamisá-los), refazer os assentamentos de válvulas, dar uma geral em todos os dutos, trocar anéis, bronzinas e talvez até as partes móveis do motor (pistões, virabrequim, comandos e molas de válvula, etc)… em resumo, você gastaria algo próximo à compra de um motor realmente novo, sem ter passado por uma enchente.

Outro problema foi quem tentou lucrar com a situação, e raspou todo o cofre, comprando cinco, seis, dez unidades, para re-revenda. Imagine os problemas que esses caras arranjaram com os compradores, foram transformados em picaretas, gente de má fé, etc.

Tudo isso só aconteceu porque a Ford e suas concessionárias não avisaram por escrito – via comunicado impresso nas caixas, por exemplo – que estes motores passaram por imprevistos e que estavam comprometidos. Esta situação acaba caracterizando o chamado vício oculto, que é quando um produto possui um defeito que não é avisado pelo vendedor e nem é facilmente identificado pelo comprador. Pela falta de aviso, acabaram mandando mal.

Me pergunto se alguém levou este caso à justiça. Imagino que é causa ganha. Será que algum dos leitores sabe de uma história dessas com final feliz?