Vou postar um texto do Jornalista Joel Silveira Leite, onde o próprio texto explica a noticia.
Ao chegar a sua mesa de trabalho, dias atrás, na sede do Grupo Volkswagen em Wolfsburg, o diretor de desenvolvimento de veículos comerciais da empresa, Dietmar Schmitz, deparou-se com o que ele classificou de “um dos pedidos mais estranhos em toda a sua longa carreira de engenheiro”.
A solicitação pedia o desenvolvimento do sistema de freios antiblocantes, o ABS, para o Projeto T1. “T1” é a abreviatura de “Transporter One”, nome original do projeto da perua Kombi.
Incrédulo, Dietmar Schmitz debruçou-se sobre o problema. Mas como adaptar um sistema moderno num veículo que foi projetado há exatamente 60 anos (que foram comemorados no último dia 8 de março)? Para o diretor de desenvolvimento da Volkswagen nada é impossível, mas ele reconheceu que essa tarefa será um dos seus maiores desafios. Ele ainda não conseguiu, por exemplo, achar um espaço no eixo dianteiro para a colocação dos sensores que enviam ao computador central a mensagem para o acionamento do sistema.
A necessidade de ter o equipamento é da legislação brasileira, que prevê a obrigatoriedade do sistema de freios ABS para todos os carros produzidos no Brasil em 2014. A exigência começou este ano, com parte da produção (8% de cada empresa) sendo obrigada a ter o ABS de série. A entrada deste equipamento e do air bag nos carros será gradual, sendo que a cada ano aumentará o volume de produção com os dois sistemas.
A resolução do Contran – Conselho Nacional de Trânsito, obriga as fábricas a colocarem freios ABS e air bags em 15% seus carros e comerciais leves a partir de 2011. No ano seguinte serão 30%; em 2013 aumenta para 60% e a partir de 2014 todos os carros vendidos no Brasil terão que ser equipados com o ABS e o air bag. No caso do air bag, os novos projetos já terão que ter o equipamento a partir de 2013.
Assim, o desenvolvimento de ambos os sistemas para a Kombi (e não apenas o ABS), por mais insólito que pareça, é condição para a sobrevida do carro mais antigo produzido no Brasil.
O poder de adaptação da velha Kombi à era da tecnologia não deve ser desprezado. A Kombi já teve os “dias contados” por conta de, presumivelmente, não poder acompanhar a evolução exigida pela legislação. Foi em 2006, quando a Volks teve que parar produção do motor a ar por causa das emissões. A Kombi passou a usar o motor refrigerado a água com catalisador, o 1.4 flex.
O futuro do veículo mais longevo da história não está garantido, mas pode ter certeza que a engenharia da Volkswagen vai fazer de tudo para que a Kombi supere mais essas barreiras: outra delas é a obrigatoriedade de teste de impacto a partir de 2012.
Além de ter um projeto antigo, a Kombi permanece praticamente a mesma nesses 60 anos, não tendo a empresa, portanto, custo de desenvolvimento. Com tudo pago, vender uma tonelada de ferro sem nenhuma tecnologia moderna por R$ 40 mil, é lucro fácil.
Além de ter todo o ferramental pago de longa data, a Volkswagen não gasta um tostão de marketing e propaganda para vender um volume invejável, de 2,3 mil unidades mensais. Sem nenhum anúncio nos jornais ou na TV, a Kombi vendeu por mês, no ano passado, mais do que o Vectra da GM; o dobro do que o Citroën C4 Pallas (1.000/mês), mil unidades a mais do que o Focus hatch, o dobro do que vende o sedã Linea, da Fiat e três vezes as vendas do Stilo.
Na própria Volkswagen a Kombi vende mais do que o Polo, Golf e toda a linha de importados.