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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carro 1.0 estão vendendo pouco, então está na hora de comprar 1.4/1.6. Certo?

Os números indicam que houve uma mudança de hábito nos últimos anos: a participação dos modelos com motor 1.0 no volume de carros vendidos caiu de 71 % em 2001 para 44,5 % em Agosto de 2011.

A fatia de mercado que compreende carros com motores acima de 1.0 e menores que 2.0 está em torno de 54 % (era de cerca de 27,7% há 10 anos). A faixa acima de 2.0 representa cerca de 1,5% do mercado (era de 1,3%).

Por que será que o consumidor está mudando de idéia? Anda utilizando mais a razão na escolha? Difícil dizer, uma vez que escolher um carro envolve também bastante emoção. Cor, design, preferência por marca e nostalgia, por exemplo, são parte do lado emocional.

O que podemos fazer, no que se refere ao lado dito racional, é levantar questões para que você mesmo possa dizer se um 1.0 ou um 1.4 – quiçá um 1.6 – é mais adequado para você.
Vamos a elas:

“ – Onde eu moro tem muita subida ou é uma cidade mais plana?”,
“- O carro vai andar cheio ou vazio?”,
“- Vou levar a família e amigos frequentemente a regiões serranas como praia e montanha?”,
“- Qual minha verba?”,
“- Compensa investir em ar-condicionado se aqui não passa de 27 graus e raramente vou até uma cidade mais quente?”,

E uma questão que parece muito óbvia: “ – Busco economia? Então a melhor escolha é um 1.0, certo?”. Veja bem: nem sempre! Se onde você mora tem muita subida, um motor 1.4 irá lhe servir melhor, com cerca de 30% a mais de torque, 20% a mais de potência e, consequentemente, menor necessidade de reduzir e esticar as marchas.

Ou seja: um motor 1.4 será até mais econômico que um 1.0, que ainda requer um certo aprendizado no modo de dirigir se for seu primeiro 1.000, pois para tirar melhor proveito dele, você usará muito mais o câmbio e terá que se acostumar a ouvir o motor gritando a giros altos sem sentir remorsos depois.

Respostas (possíveis) para as perguntas seguintes: O carro vai andar cheio ou vazio? Se vai andar cheio mas no plano, um 1.0 vai legal. Ainda assim, sofrerá nas arrancadas. Você curte ir à praia ou à montanha mas na ida ou na volta tem que encarar aquelas serrinhas quase em espiral iguais às de desenho animado?

Subindo a serra

Nesse caso, acredito eu, a decisão deveria levar em conta a segurança dos outros motoristas também. Mas não funciona assim. E está aqui a razão pela qual redijo esta matéria. Sempre que volto da Serra do Mar, Ubatuba ou vou até Campos do Jordão, a 1700 metros de altitude, reparo o quanto o trânsito trava e chega até a parar devido aos carros 1.0 – sejamos justos, aos mais potentes sem manutenção também.

O que geralmente acontece é que devido ao longo trecho de subida em altas rotações em primeira marcha, no máximo uma segunda pedindo primeira, acontece um superaquecimento e não raro o carro ferve. Pelos acostamentos vários carros parados com capô aberto.

E os que continuam fazem com que veículos pesados como Topics ou caminhões e ônibus percam o embalo e tenham que parar e recomeçar a “remada” morro acima. Numa dessas, na volta da praia, eu pensei alto para um Fiat Siena cheio de gente e bagagem que estava sofrendo para contornar uma curva fechada na subida, segurando outros tantos veículos à minha frente: “Na próxima vez, amigo: compre um 1.4!”

Está convencido que numa situação dessas um 1.4 vai melhor? E pode crer: na descida também. Mais torque significa mais freio-motor e na descida íngreme o carro vai descer melhor numa segunda ou terceira marchar sem gritar. E o sistema de freios agradece. Será raro “acabar ” o freio, pois o pedal será menos exigido.

E em carros com lona de freio, aquele cheiro terrível de queimado não irá contagiar o ambiente. Continuando com a análise das perguntas, as seguintes levam em conta um fator que conta muito. E que dói em alguns. O fator “bolso”!

Analisando os números

Qual minha verba? Escolhi três modelos de carros zero Km, nas versões 1.0 e 1.4, para servir de exemplo:

O Fiat Novo Uno na sua versão Evo Way 1.0 2 portas custa R$ 27.830,00. Com motor 1.4, R$ 30.830,00 (diferença de R$ 1.800,00). O Sedã Siena, por sua vez, na versão EL 1.0 custa R$ 33.760,00. Na versão EL 1.4, R$ 35.860,00 (diferença de R$ 2.100,00).

O terceiro exemplo, o Chevrolet Prisma é mais interessante, uma vez que a diferença é bem menor. O LS 1.0 é tabelado em R$ 31.626,00. O LT 1.4, a R$ 32.439,00 (R$ 813,00 a mais). Mas fique ligados nas promoções e feirões que você pode conseguir, por exemplo uma direção hidráulica na faixa, levando pra casa um carro 1.4 já não tão básico!

Será que sai mais barato para uma montadora produzir um motor 1.0 do que um 1.4 ou 1.6? Na prática não. A GM, ao que parece, resolveu “assumir” isso na politica de preços do Prisma.. E a Peugeot já havia percebido isso há uns 7 anos, quando parou de comprar motores Renault 1.0 16 válvulas e passou a oferecer o seu próprio 1.4 8 válvulas no lugar sem cobrar mais por isso.

E a nova fábrica da GM em Santa Catarina fará apenas motores 1.2. Um meio-termo interessante, não acha? Mais que isso talvez assuste muito os fãs incondicionais do motor 1000.
E, para terminar a seção investimento, a última questão que muitos se farão é se compensa investir em ar-condicionado.

Ar-condicionado

Conforme exemplificamos acima, “se aqui não passa de 27 graus e raramente vou até uma cidade mais quente?” Aí pode realmente não compensar mesmo. Mas se a decisão for por investir no item, lembre-se que ar condicionado acaba roubando certa potência do motor e acrescentando peso extra. Com 1.0 no plano, até vai. Mas em subida, vai requerer desligar o sistema por algumas vezes.

E o investimento neste item, acaba por sugerir a compra do motor mais forte também. A compra do ar condicionado representa em média mais R$ 2.900,00 investidos. A soma de ar condicionado mais motor com mais potência e torque pode chegar a R$ 5000,00. E com adição da direção hidráulica passará de R$ 6.000,00.

O que muitos fazem é levantar um financiamento maior para diluir essa diferença em suaves prestações. Metade dos carros novos vendidos no Brasil atualmente são financiados, o que faz com que muitos decidam investir um pouco mais em segurança, conforto e performance. Na hora da revenda, embora muitas vezes não se recupere o investimento, ao menos será mais fácil vender um carro mais equipado. Mais potente, nem sempre.

Bem, espero poder ter contribuído com você que está considerando um upgrade de motor. Lembrando que as mesmas questões podem ser usadas para comparar modelos que têm versões 1.0 e 1.6, como VW Gol, Renault Logan e Nissan March, por exemplo. O 1.4 foi utilizado aqui por estar assim dizer mais perto do 1.0 no mercado brasileiro.

E para finalizar, caro leitor, algumas perguntinhas para agitar o debate: O que leva em conta ao escolher seu carro (novo ou usado)? Acredita que motor 1.0 ainda é imbatível em consumo? Se tivesse que escolher entre 1.0 com ar e 1.4 sem ar, com qual ficaria?

Acredita que novos motores de 1 litro com 3 cilindros e com mais tecnologia (turbo, sistema VVTi e injeção direta por ex.) e novos lançamentos poderão reverter a queda de vendas dos carros que usam motores com esta “cilindrada”?

E uma pergunta mais polêmica: carro mil atrapalha o trânsito?

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