É uma curva longa à esquerda, com 180 graus e 200 metros de extensão. Sinto as laterais dos Pirelli P6 dobrarem sob as rodas conforme acelero. Estou a 75 km/h, quando os pneus dianteiros começam a arrastar no asfalto. Devido à umidade, não há derrapagem. O volante vibra e a dianteira começa a escapar, de maneira que só me resta aliviar um pouco o pedal da direita. Volto à base sem pressa, para resfriar os freios e enxugar o suor das mãos. No estacionamento, vejo a bela traseira da minha próxima vítima. Um novíssimo Bravo T-Jet, igualmente amarelo, igualmente 1.4 turbo, me aguarda. Decido postergar o prazer, e vou tomar um refresco, enquanto flerto com a carroceria de ambos à distância.
IRMÃS CONTRASTANTES
Ao entrar na cabine, a diferença de categoria entre os dois fica bem mais clara. O quadro de instrumentos do Bravo lembra os Alfa Romeo de antigamente: o velocímetro e o conta-giros estão em dois copos de bordas cromadas, e os outros mostradores ficam agrupados no centro. O painel é revestido com um material tramado que lembra fibra de carbono, é mais envolvente, os plásticos são emborrachados e os encaixes são melhores. O fechar de portas ressoa um isolamento acústico mais eficaz, e o sistema integrado de som, computador de bordo e navegação (opcional) - com tela de 6,5 polegadas no console central - dá o toque final de refinamento.
ASFALTO, GASOLINA E BORRACHA
Mas, neste momento, nada disso importa. Estou aqui para apenas ver do que ambos são capazes, e o quanto de diversão eles proporcionam. Asfalto, gasolina e borracha, meu caro. Não é para isso que as versões T-Jet vieram ao mundo?
A garoa continua. Saio em ritmo mais leve, para aquecer o conjunto e pegar a mão da irmã maior - estou mal-intencionado, mas ela ainda não sabe. Vejo dois botões no painel - OVB (Overbooster) e ASR OFF - mas decido explorá-los mais tarde. Noto que o sistema elétrico de direção opera com amplitude maior: ele é mais leve em manobras, e mais pesado em velocidade que o sistema hidráulico do Punto.
É hora de judiar da garota: retão de dois quilômetros, 190 km/h, berro metálico a 6.000 rotações - sim, as relações são mais curtas, graças ao câmbio de seis marchas. A placa da curva passa em um flash, respiro, estanco no freio com força: ele mergulha e dança bem menos com a traseira, graças a uma distribuição de peso mais equilibrada (61,5% dianteira e 38,5 traseira, 0,8% melhor que o Punto) e ao entreeixos mais longo - respeitosos 9,2 cm de diferença. E pasmem: apesar dos 140 kg a mais, ele freou melhor que o Punto em quase todas as aferições. Qual o segredo? Nós descobrimos, e depois contamos para a irmã menor - e para vocês.
Quarta, terceira marcha, aponto para dentro. Na curva, o Bravo continuou com sua aula de classe: reação mais rápida na entrada para o ponto de tangência, direção mais comunicativa e firme, menor inclinação de carroceria (nisso ajudam as bitolas mais largas, 59 mm na frente e 54 mm atrás) e um pouco mais de velocidade no contorno. No geral, o Bravo transmite mais segurança quando levado ao limite - bem, isso também é menos divertido.
Próximo à saída da curva, estou com quase 100% de pressão no pedal. As costelas começam a esmagar as laterais do banco, quando sinto o motor cortando o meu barato - sensação pior do que quando a garota tira a sua mão dali, justamente quando está ficando bom. Cazzo! Tirei o pé e saí de mansinho. No console central, encontrei o passaporte da alegria: o botão ASR OFF.
SAPATINHOS DE CRISTAL
PUNTO ANABOLIZADO
Vinte milímetros a mais de um pneu superior, em um carro 140 kg mais leve e de respostas dinâmicas mais viscerais? Não deu para resistir. Sujamos as mãos, as roupas e largamos a irmã grande descalça no elevador. As rodas maiores do Bravo caíram como uma luva no Punto, que ficou com uma postura invocada - lembrando os carros que competem em track days. Agora, era hora de ver se a atitude em pista correspondia à aparência de garota fatal.Na primeira vez que fiz a curva leste, cheguei a pensar que tivesse errado tudo: na frenagem, a traseira ficou no lugar, sem balançar, sobrando um pouco de distância. Na entrada de curva, o carro apontou bem mais para dentro, como se estivesse lento. Mas na volta seguinte, descobri que criamos um pequeno capeta: podíamos frear depois e acelerar antes - até mesmo que o Bravo -, em todas as situações de pista. Mas a maior diferença foi a atitude. Ele ficou afiado e comunicativo, com respostas rápidas e seguras no limite. Em uma competição nessas condições, a disputa seria acirrada com o Bravo - mas quem ficasse com o Punto iria se divertir mais.Tudo muito bacana nesse troca-troca, mas e na hora de botar a mão no bolso? Sobra troco pra contar história? Se o preço estimado de R$68 mil for confirmado para o Bravo T-Jet (com rodas aro 17 e sem o sistema Blue&Me NAV), a tendência é que os R$ 64.264 do Punto T-Jet desçam morro abaixo. Isso pode ser uma boa notícia para quem gosta de um carro nervosinho, desde que esteja disposto a conviver com um acabamento inferior.
Pelo seu preço, o Punto T-Jet deveria empregar plásticos emborrachados. A faixa do painel, na cor do carro, divide opiniões. Pedaleiras e apoio para o pé esquerdo, em alumínio, estão em ambos os carros. A ergonomia de ambos é boa, mas a regulagem de altura da coluna poderia descer um pouco mais.
Por dentro, o Bravo justifica melhor o seu preço: materiais agradáveis aos olhos e ao tato, e uma arquitetura de painel mais sofisticada. Mas não existe almoço grátis: volante e manopla de câmbio são iguais às do Punto, com novo revestimento. O couro (sintético) dos bancos poderia ser melhor
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