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sábado, 3 de agosto de 2013

Ka entre nós

O ano era 1997.O Corsa Wind reinava como o compacto de design mais bonito e atual. O Fiesta nacionalizado em 96 não caíra no gosto popular, apesar da excelente dirigibilidade e da boa aceitação na Europa desde 1976. Daí aparece nas revistas um carro estranho e com um conceito diferente: pequeno por fora, quase sem porta-malas e com banco traseiro que obrigava os amigos a irem de taxi.
Para que eu quero um carro desses ? Desde o Romi-Isetta a ideia de um compacto assim passava longe do Brasil. Tínhamos muito espaço nas ruas (apesar dos congestionamentos) e somos um país enooorme (mesmo faltando vagas nas grandes cidades). Mesmo assim o Ford ka foi uma aposta ousada em nosso mercado. Assim como as minivans que tivemos na mesma época, as chances eram 50/50.

Eu mesmo achava um desperdício a Ford vender Fiesta e Ka: Tem a mesma suspensão, motor e inúmeras peças em comum. Por que a Ford simplesmente não fez um Fiesta mais ao estilo New Edge, que estava vindo com força na marca ? 'Mas o Ka só tem 2 portas' você pensa. Mas o Fiesta também tinha versão 2 portas na época.

Mas o Ka foi ficando, ficando, ficando . . . até achar seu lugar na linha. Mas o processo foi difícil, até porque o design não era totalmente perfeito. A frente com faróis bicudos até agradava, mais pela associação a lindas mulheres, mas a traseira conseguia unir Gregos e Baianos. Todos eram contra. E pior: muitos comparavam-na a então prefeita de São Paulo, que já não era referência em beleza . . . Achavam tão ruim, que em 2002 o Ka ganhou uma reestilização apenas na traseira, e só no Brasil.

Já no interior, o painel agradava demais. Parecida com as do Fiesta, mas totalmente diferente, tinha bancos agradáveis aos olhos e ás costas. É claro, o painel com plástico decente nos fazia conviver com a lataria exposta e a falta de regulagem dos cintos de segurança, mas isso é apenas detalhe.

Ouvi bastante que muitos homens compraram o Ka pra que quando a esposa dirigisse, não acertasse nada, já que os para-choques não tem quinas (pura maldade KKK). O fato que eles dirigiam o carro e muitas vezes acabavam gostando mais dele do que de seus carros atuais.

E assim, ele foi achando seu lugar nas garagens pelo Brasil. Em 2000 o velho motor Endura-E seu lugar ao recém-lançado Zetec Rocam, e assim começava um novo capítulo na história deste pequeno Karro.

Essa semana indo comprar uma peça para o meu Fiesta, vi um For Ka 1997 do primeiro lote (aliás, segundo o dono ele foi comprado dia 16/03/1997, exatamente no dia do meu aniversário, e dia de estréia do modelo), dourado. Ele tinha 68 mil kms, e estava nas mãos do segundo dono, que o comprara em 2000 com 29.000 km.

Perguntei se ele venderia e a resposta foi 'Quem sabe depois da Copa . . .'. Ouço muito sobre problemas com o motor Endura-E, mas o dono deste CLX 1.3 não mencionou nenhum. O mantém apenas com manutenção em dia e trocas de óleo precisamente controladas. talvez pelo dono atual ser dono de uma oficina . . . Ou então esta seja apenas uma mosca branca mesmo. Apenas digo que esse Ka envelheceu com dignidade.

Hoje temos o Novo Ka (que aliás carrega muito do antigo) enquanto na Europa a Ford admite que ao usar a plataforma do Fiat 500 para a segunda geração, abriu mão do maior patrimônio do Ka: justamente sua personalidade, definida por linhas polêmicas (o modelo atual também teve sua traseira discriminada) e dirigibilidade de kart (que foi a maior perda do europeu, e que torna o brasileiro referência no segmento).

Em nome da boa concorrência ficamos na torcida para que a próxima geração que chega no fim deste ano possa manter todo o legado do modelo. Quem não se lembra do Ka XR, que foi o Ka mais potente do mundo com o Zetec Rocam 1.6 de 98 cavalinhos, e faz dele um monstrinho devorador de curvas em track days. Agora com 16 anos de mercado, ele teve que crescer na marra para assumir suas responsabilidades em casa ( O Fiesta subiu o nível com o pré-nome 'New' e agora é premiun, e o Rocan sai de linha logo-logo), e quem sabe, não acaba constituindo família . . .

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